11.3.07
A MORTE DE DANTON NA GARAGEM
O teatro da garagem, sito no Taborda apresenta-nos desta vez uma peça clássica de Buchner, escritor dramático oitocentista que neste texto analisa o regime do terror, época posterior à Revolução Francesa.
Através do pensamento de figuras por demais conhecidas, como o enciclopedista, mas também o incorruptível Robespierre e o diletante Camillo desenrolam-se intrigas políticas e discorre-se sobre a nova refundação nacionalista do país hexagonal na republica num momento de radicalização revolucionária que a todos levará à guilhotina.
“Os mortos jogam às cartas com os médicos” do outro lado da vida, do espelho – abre-se a peça num prenúncio de morte em ambiente para-hospitalar que recebe os espectadores.
Passamos depois ao espectáculo propriamente dito, em jeito de arena, Carlos Pessoa numa opção arriscada levantou toda a plateia da sala e dispõe os espectadores numa roda dentro da qual os actores representam.
Com um leque de muito bons actores, durante quase duas horas temos teatro.
Danton o homem político, moderado e a sua trupe, que o apoia mas que discorda de algumas condutas: o ambiente nocturno de rameiras e vinho verde, o empobrecimento físico e espiritual da sociedade de bem pensantes.
Camilo o elo de ligação, não só na amizade que o liga ao iluminista, mas também na camaradagem advinda dos tempos escolares com Robespierre.
O universo da peça reporta-nos aos tempos revolucionários com ligações insuspeitas à época que vivemos hoje.
Entre virtudes públicas e vícios privados, ambiências teatrais e a vida da rua, o palco ideológico e a praxis corrompida, de resto tudo temas insertos no texto original que foi seguido irrepreensivelmente.
Pessoa a brincar aos teatros uma opção do teatro dentro do teatro onde há um lugar privilegiado do encenador dentro da peça – o alter-ego do encenador propriamente dito – as suas angustias, as questões metafísicas, as opções cénicas, a direcção de actores,
há lugar para isto e muito mais nunca espectáculo extraordinariamente rico em boas representações individuais, no ritmo que os actores enquanto conjunto lhe imprimem, nas luzes bem estudadas, num jogo interessante de figurinos, nos objectos de cena em que - característica imanente da Garagem sublimam o grotesco que chega a chocar o espectador, direitinho, arrumadinho, acomodado na sua burguesia – e questionam sempre as vidinhas e as futilidades do dia-a-dia!
Uma palavra para sublinhar, mais uma vez os rasgos de teatro que os actores, todos e cada um, imprimem no espectáculo: os “garagianos” Ana Palma, Fernando Nobre e Miguel Mendes pela qualidade de trabalho a que já nos habituaram e as aquisições últimas: Carla Bolito, magnifica, Célia Jorge, Cláudio Silva, Diogo Bento, Miguel Damião e Miguel Matias em registos muito interessantes.
Venham ver!
No Teatro Taborda até 25 de Março, de Quarta a Domingo à 21h30.
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1 comentário:
Já fui grande apaixonado por teatro quando andava por Lisboa e não perdia oportunidade nenhuma para ver bom teatro. Bom fim-de-semana.
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