28.3.06

COMUNA

Ontem, dia 27de Março, comemorou-se mais um Dia Mundial do Teatro.
Como sucede todos os anos, várias companhias e grupos teatrais marcaram a data com apresentações especiais e convites generalizados para que todos participássemos activamente da festa, muito embora este ano a escolha estivesse mais limitada já que os teatros da Garagem, o Ibérico e a Casa da Comédia, terminaram as representações das peças em cena no Domingo. Foi pena.

Cá por nós, optámos por uma ida à Comuna


Em boa hora o fizemos porque a peça que escolhemos: www. Feios, Porcos e Maus é muito divertida e de uma pormenorização perspicaz.
Passámos um par de horas a assistir a um espectáculo quase hilariante, de uma critica mordaz à sociedade e à cena política nacional, caricatura da vidinha neste Jardim à beira mar plantado que ilustra vivamente a mentalidade da multidão face aos temas mais actuais, a partir de perspectivas várias em circunstâncias diversificadas.


Como a representação decorre no Café Teatro, enquanto assistimos ao espectáculo podemos alegremente petiscar chouriço assado, vinho tinto e um caldo verde bem quentinho, de óptima qualidade e a um preço francamente acessível, (escolhendo de início se pretendemos este repasto ou somente deleitar-nos com um bom copo de vinho oferecido gentilmente…)



Que dizer de uma peça que da autoria de um grande senhor do teatro como é o Carlos Paulo, muito bem representada por um jovem grupo de actores que de uma forma bastante leve, criam grande empatia, proximidade e até uma certa cumplicidade com o público.


Seria até injusto referenciar algum em especial, pois cada qual no seu papel trás um contributo único à comédia, seja a angolana na sua dança ou o gordo no andar, a mulher do presidente ou até um ou outro entrevistado mais sarcástico.







Resta-nos fazer uma chamada de atenção para o belíssimo trabalho de cenografia que está no chão do palco, que pelo sítio de colocação pode passar despercebido aos espectadores, por isso, aconselho vivamente a sua observação de pertinho, já que tem pormenores indescritíveis num simples post de um modesto blog como este.


ESPECTÁCULO A NÃO PERDER

24.3.06

TEATRO DA GARAGEM - Dia da árvore

A companhia do Teatro da Garagem, para além dos espectáculos que apresenta regularmente com a qualidade a que já nos habituou, abraça ainda projectos concretos de inserção na sociedade envolvente, desenvolvendo parcerias com variadas entidades mas também com a população vizinha dos espaços a que dá vida em determinada altura…

No ano passado apostou na “Escola de Teatro”, espécie de atelier de jogos teatrais e artes dramáticas.
Apelando à participação das crianças e dos jovens vizinhos do espaço que ocupavam na R. Annes Penedo, criou um ambiente de partilha e de aprendizagem em grupo, dando uma oportunidade única a estes miúdos de desenvolverem capacidades e competências a que de outra forma nunca acederiam.
No fim do curso apresentaram um espectáculo cheio de energia positiva, improvisações de momentos banais do dia-a-dia dos jovens participantes que ali ganhavam particularidades várias – expressão da sua identidade - e resultado do trabalho que desenvolveram ao longo de vários meses.


Nesta linha de actuação este ano, na sua nova casa (o Teatro Taborda) e a propósito do Dia da Árvore que marca simultaneamente o início da Primavera, convidou as Escolas Primárias mais próximas para uma visita guiada ao teatro.
Aproveitando a possibilidade de plantar árvores no jardim anexo ao espaço, o programa constava de uma visita aos bastidores, de momentos lúdicos e de um fim virado para a ecologia.



À entrada as crianças eram recebidas por três actores que encarnavam respectivamente as personagens de uma directora e dois seguranças. Após uma breve explicação do que iriam observar durante a visita, feita pela directora,


eram revistados por um dos seguranças







enquanto o outro lhes distribuía os bilhetes, a “autorização” para a entrada no mundo do faz-de-conta.






Passavam depois à Sala da Produção, onde se discutem todos os problemas relacionados com o financiamento, a obtenção de recursos, etc.





No meio de um stress inimaginável assistiam in loco à contratação de uma grande vedeta: o Urso Pascoal. Depois de uma negociação apertada entre orçamentos e disponibilidades e de grande despique lá acertavam agulhas e o Urso lá aceitou as condições propostas.


Problema resolvido na produção, faltava ainda dar uma espreitadela à arrecadação dos figurinos, onde actores a sério entre personagens mais variadas, com um monge ou mesmo uma donzela muito masculina demonstravam como as roupas,

os trajes e outros artifícios, se bem utilizados podem transformar e enriquecer as personagens.




Do mundo dos bastidores passavam depois para o palco:Finalmente a Sala Principal onde se apresentava uma pequena peça com direito



a ver e ouvir o sonho de um menino como tantos eles e elas ali feitos gente grande a assistir a uma peça “à séria”…







A fechar a peça e depois de música tocada por um trovador muito original, o espantalho convidava-os a darem uma ajuda ao ambiente,





plantando uma árvore no jardim…

18.3.06

TEATRO IBÉRICO


O pano subiu mais uma vez num local que depois de ter sido a Igreja do Paço Real de Xabregas (séc.XVII), no tempo de João IV, foi uma Fábrica de Tabacos (séc.XIX-XX). Com a Revolução do 25 de Abril, passou a albergar Teatro Ibérico.

Hoje estreou a peça Salada Russa de Anton Tchekhov.
A bem dizer na primeira parte representa-se “ O Urso”, conta-nos a história de uma viúva de luto desde a morte do marido, sem receber ninguém há muitos meses vê a sua casa invadida por um oficial do Exército Russo a quem o falecido havia deixado uma dívida.

Quando este lá se dirige para a cobrar,

















Apaixona-se pelo fulgor e pelos modos desta mulher-desejo



Na segunda parte temos a encenação de um outro conto de Tchekhov: Pedido de Casamento


O autor debruça-se sobre os hábitos e costumes da sua época, a organização social e os papeis que cabem a cada actor, estereótipos planos representando figurinhas intemporais. Resumindo, a forma mesquinha como viviam e a decadência de uma sociedade, cruzada entre o passado e o futuro, sem identidade própria.


O cómico ressalta das contradições entre o querer das personagens e a sua incapacidade para a acção que se traduz numa luta entre convenções sociais e impulsos irreprimíveis da natureza humana. A dificuldade de conciliar os desejos com o absurdo das situações entretanto criadas…





Um espectáculo em duas partes distintas que tão bem retratam uma época (que o escritor soube descrever como ninguém) e que aqui ganham vida própria no desenrolar da acção…
São cerca de duas horas cheias de tonalidades diferentes, ritmo e muita energia…




Em cena no Teatro Ibérico de 16 DE Março a 9 Abril Quinta a Sábado às 21h30, excepto aos Domingos, às 18h30m

12.3.06

FLASH – BLACK





A peça, escrita pelo congolês Denis Mpunga conta-nos a história de um rapaz africano
















que transporta uma flauta, oferecida pela mãe, antes da partida para o sonho, o desejo de melhor vida procurada em terras estrangeiras…

















Recorda-nos a sua infância, povoada pela história da Rainha Sem Nome,




que era uma lenda contada pela avó a quem já tinha sido contada pela avó dela e que assim, na boa tradição oral ia passando de gerações para gerações…








O nosso herói, representado por Miguel Sermão, atravessa o Oceano chegando a uma cidade europeia, não interessa qual, poderia ser a nossa…












Aqui descobre o amor,







mas também o racismo mais primário,


sofrendo a repressão, a discriminação






e também a prisão…





Depois do cumprimento de uma pena sem crime em terras estranhas é então deportado, expulso para o nada, depois de buscar tudo:









De volta à sua terra natal, reencontra a namorada que lhe estava destinada,












mas que em vez de amor, queria apenas um presente e nada mais… Só um carro!


Um automóvel que a levasse em viagens, só queria era passear, evadir-se…



Chegando à triste conclusão que já lá não pertencia, pois fazia parte do mundo da errância, do vaguear por terras desconhecidas e oportunidades perdidas…
Acaba por ficar na terra natal preso nos espartilhos sociais e agarrado a costumes locais, que tal como as histórias: também eles passam de geração em geração!


Talvez, na nossa modesta opinião esta não seja uma peça para crianças, mas sim para jovens adolescentes e outros espíritos jovens que estejam dispostos a reflectir em temas como o preconceitos e herança cultural que todos trazemos, a genética, a cor, o paradoxo do medo do desconhecido e a atracção da diferença…

Não queremos terminar sem deixar uma palavra de apreço pelo trabalho realizado com e pelos jovens do colégio de Pina Manique, um dos estabelecimentos da Casa Pia de Lisboa, que aqui bem demonstram o profissionalismo, o rigor e um trabalho muito bem feito. Parabéns a todos, principalmente a estes jovens actores!

Em cena no CCB de 11 a 19 Março, 14,15,16 e 17 às 11h, dia 18 às 15h30 e dia 19 às 11h30.


Vão ver que vale a pena!!!

CATHERINE MORISSEAU

Quem não se lembra de noites bem passadas no velho Clube Naval, quando ali se reunia toda a extravagante fauna lisboeta, ao som do tilintar dos copos e de músicas de outras latitudes. Depois de um tempo fechado e episódios vários, está hoje transformado num agradável restaurante de cozinha oriental e do extremo oriente, o Café Malaca, transportando-nos para outros hemisférios, já não pelos sons mas pelas cores e sabores que nos oferece num ambiente náutico a recordar viagens, umas feitas, outras imaginadas…



Neste cantinho, à beira Tejo plantado, embora se mantenha a original decoração a que estamos habituados, tudo o resto se modificou. Ali ressurgiu um restaurante onde a comida é requintada e a ementa imaginativa, por recurso a ingredientes da mais alta qualidade somos presenteados com refeições exóticas apreciáveis até pelos paladares exigentes…
Depois desta breve viagem pelo universo gastronómico no Malaca atentemos àquilo que nos levou lá:

Foi este o local escolhido pela Catherine para apresentar os seus últimos trabalhos de fotografia.




Com uma exposição inaugurada no passado dia 09 de Março, a que deu o título Noites Brancas (a relembrar universos do homónimo livro de Dostoievwsky) vejamos:



Nas molduras espelha-se a visão desta nossa Lisboa por uma estrangeira residente que repara em pormenores que para nós, de tão vistos desde crianças, só reparamos quando alguém nos chama a atenção para os mesmos, neste caso, através da lente de uma velha Lomo a preto e branco.



A própria máquina, que remete para a nostalgia de outros tempos, traz-nos imagens com memórias, relembra-nos por que somos todos apaixonados desta capital de antigos impérios, quiçá na esperança de ver aqui realizar-se o Quinto Império

Se quiser passar uns momentos agradáveis desloque-se até ao Café Malaca de Segunda a Quinta entre as 12h30 e as 18h00 e nas Sextas e Sábados, para além das 12h30 às 18h00 também num horário alargado a partir das 20h30 e até à meia-noite.
A exposição estará patente até 24 de Março.

Resta apenas acrescentar que, noites escuras e luzes brancas num retrato sonhado da Lisboa Nocturna feito por uma pianista francesa amante da Cidade Branca são, sem dúvida, um bom pretexto para um café, um copo ao fim da tarde ou porque não, um jantar na companhia de pequenos nadas que são tudo para os amantes da cidade e de noites inesquecíveis na Lisboa de todas as eras…