A palavra Mágoa tem origem no latim Macula
Que significa mancha ou nódoa.
Mágoa é pois uma Macula,
Uma mancha ou nódoa de tristeza.
É também o mote para a nova peça em cena no Teatro da Garagem (no teatro Taborda, à Costa do Castelo).
Mágoa é também um sentimento apresentado por entre a solidão, o desencanto, a desilusão, a saudade de um passado que ainda é.
Histórias corriqueiras de mulheres banais, entre si partilham um amor fraternal que faz de cada uma delas únicas.
Quatro actrizes distintas, entre a força e a sensibilidade das palavras, a energia e a economia simultânea na representação, em quatro actos narram momentos desde infância à idade adulta.
Ganham vida quatro irmãs que partilham um passado e vivenciam vários presentes.
No primeiro acto – Morrer de amor – apresentam-se manias e extravagâncias, do coleccionismo de areia à paranóia das compras, chama-se a literatura à colação, contracena-se com um cão imaginário.
Expira-se um amor invertido por um grunho, um amor maternal por um filho que já só existe na cabeça da mãe…
O Urso – segundo acto – doente, maculado, mas intangível, transcendente, psiquiatra, interlocutor mas fundamentalmente simbolismo.
Daqui a uma corrida de carrinhos de supermercado, simbolismo genial do imaginário feminino para remeter à Corrida de Indiannopolis – quatro fatos de macaco dentro dos que se digladiam emoções, discutem perspectivas circulares, como uma esfera, uma roda, um pneu.
Sonhos que desaguam numa realidade inexistente. Um epilogo que nos traz ao âmago deste texto, ao originário primeiro da sua existência teatral:
Um suicídio colectivo, de quatro irmãs, ocorrido na Índia, em fuga de uma vida de fome e privações.
A consistência teatral, figurada que aqui reúnem as personagens, a consciência de estórias de todos os dias trazidas ao palco, a tradição clássica de irmãs, mulheres e o seu universo na herança judaico-cristã, de Tchécov a Sófocles passando por Garcia Lorca; aqui desconstruídos e re-interpretados numa imagem da espuma dos dias.
Um texto da maturidade, representado de forma exígua por pessoas de muito valor e encenado por um Carlos J. Pessoa que vem evoluindo nas escolhas cénicas, com momentos brilhantes, uma audácia de relevar e o recurso equilibrado a outros domínios da arte, aqui magistralmente equilibrados.
Não podemos deixar de referir, por ordem de entrada em cena: a juventude de Lygia Logatto,
a força em palco, a dança, o movimento, a expressão a que Ana Palma nos vem habituando,
a maestria de Maria João Vicente, a sua maturidade artística, a emoção que tão bem ilustra de uma espécie de racionalidade eminentemente feminina e,
finalmente, a economia, perspicácia, comedimento numa força interior incomensurável de Luísa Cruz!
Há que tempos não víamos cruzarem-se em palco quatro tão grandes valores do nosso teatro! Definitivamente: A não perder!
De Quarta a Domingo no Teatro Taborda
21h30
Até 10 de Dezembro.
17.11.06
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3 comentários:
caro Ricardo obrigada pelo cuprimento sobre as "meninas" da Escola Lusitânea...
parabéns a todos pela ótima interpretação...
principalmente a atris Lygia Logatto
muito bom
e a sonoplastia?
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