2.12.06

EXAME


Estreou no passado Sábado uma outra peça no Teatro da Garagem – O Exame.
Trata-se de um espectáculo curto simpático mas nem por isso pouco interessante: muito bem pelo contrário.

Uma peça em torno de uma prova oral (ou melhor de três!) que se desenrola em múltiplos “teatros de operações”, da escola ao panorama futuro, das incertezas do professor às questões existenciais do aluno apresenta-se um texto intrigante, curioso e ao mesmo tempo desafiador de consciências.

O amor, a política, a história, as conjunturas, a poética e nossa estrutura cognitiva, a mandala, questões cósmicas e outras tantas bem terrenas sobre que por aqui dois personagens conversam demonstram uma maturidade na representação, uma economia na cena, um trabalho de construção de personagem e resultam num espectáculo muito bem a este nível.
Um baloiço entre a vida real e o imaginário poético num bounce muito bem ritmado pelo actor Fernando Nobre que, enquanto aluno se sustém quase uma hora num equilíbrio de forças monumental e assinalável.
Numa rede sem trapézio em que palavras, emoções e racionalidade se entrecruzam magistralmente. O actor dá vida a um texto difícil mas que tão bem expressa entre a força e a emoção a racionalidade e a cadência, entre o adulto ponderado e a criança espontânea passando por uma juventude perene.



Por seu lado, o irrepreensível Miguel Mendes oferece um chá, muito acolhedor, ao público que chega da rua, do trânsito, do ritmo frenético desta cidade para enfim descansar nesta peça que faz ecoar passados bem presentes e sonhar futuros particulares que a todos tocam muito particularmente.
Entre um chá servido e o diálogo com o aluno este professor questiona-nos sobre pormenores que tudo mudam, convida-nos a reflexões, faz-nos sorrir:
primeiro timidamente, depois numa gargalhada absurda ao sermos confrontados com um rato que se retira da chaleira enquanto se discorre sobre o Czar da Rússia.

Um outro elemento a assinalar reside na música a piano que acompanha toda a peça e muito especialmente no cuidado que denotou a elaboração da sonoplastia, da responsabilidade de Daniel Cervantes.
Juntando-se-lhe os efeitos visuais fruto de um bom desenho de luz temos a mise en scéne propicia a um espectáculo memorável que sem nos contar uma estória nos remete para tantas histórias.

Neste tempo frio assistimos aqui a um espectáculo caloroso, entre a materialidade das compras que aceleradamente se aproximam partilhamos naquele espaço cénico a espiritualidade humana que estes actores perpassam.

Só uma palavra: Memorável.

Se já existiam boas razões para visitar o Taborda por esta altura, agora estas tornam-se ponderosas.


A NÃO PERDER.

No Teatro Taborda à Costa do Castelo.
De Quarta a Domingo às 21h30.
Até 10 de Dezembro.
Bilhetes 5 € com descontos vários.

4 comentários:

Anónimo disse...

O amor... E depois metesuma foto da deslavada da lixívia?!!
Não me parece a melhor escolha!

De qualquer forma, a peça em si está mesmo muito interessante, original, faceao teatro que tem vindo a cena ultimamente.

U BJNHO e boa semana

Anónimo disse...

Gostei muito da cena em que o o ator está numa rede. Muito introspectivo isso. Afinal, vivemos a nos desatar das redes da vida.

Fraterno abraço

Anónimo disse...

Desejo um óptimo fim de semana prolongado

Anónimo disse...

Passei aqui para desejar um Feliz Natal com muitos dias de antecedência.

Fraterno abraço